TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM E NEUROPLASTICIDADE

Segundo Rotta, a aprendizagem é um processo que ocorre no sistema nervoso central, no qual se produzem mudanças mais ou menos permanentes que se traduzem por uma modificação funcional ou de conduta, permitindo assim que o indivíduo adapte-se melhor ao seu meio, como resposta a uma ação ambiental.


A autora afirma que a aprendizagem é um processo de aquisição, e que a infância e a maturidade são os dois pilares importantes do desenvolvimento. Os estímulos intrínsecos e extrínsecos são de fundamental importância para que este processo ocorra, porém, cabe ressaltar que, segundo o texto, o estímulo extrínseco, como a experiência e o treinamento são os meios mais comuns para que a aprendizagem se concretize.

A aprendizagem modifica o sistema nervoso central, e isso nos faz pensar em plasticidade cerebral que é um processo adaptativo dando ao indivíduo possibilidades de aprender, mesmo frente às novas situações ambientais.

Continuando sua explanação, a autora diz que aprendizagem não ocorre de forma isolada, mas que esta necessita da memória, pois a aquisição de um novo hábito precisa de experiências passadas, sendo possível então a comparação entre os saberes e a acomodação das novas descobertas.

O desenvolvimento neuropsicológico do aprendizado começa na concepção indo até a vida adulta. Para exemplificar, Rotta afirma que entre o quarto e o quinto meses de gestação, na etapa bulboespinal, ocorrem os primeiros reflexos proprioceptivos do feto. Nesta fase os centros hipotalâmicos começam a exercer suas funções de controle de vida vegetativa, hormonal dos afetos. Nesta época, começam neuronalmente as marcas que o ambiente ou a relação com o ambiente deixarão nos centros superiores da corticalidade.

Muitos são os sinais patológicos que se colocam dentro das perturbações do comportamento e do aprendizado, podendo isto ser proveniente de distúrbios neurológicos, emocionais, ou englobando-se em ambos os efeitos catastróficos do ambiente sobre o desenvolvimento neurológico ou sobre o desenvolvimento da personalidade.

A relação da criança com o mundo sua relação com o outro, a forma como ela é acolhida, encorajada ou reprimida, a estreita correspondência tônica e emocional que se elabora entre a mãe e a criança produzem os aprendizados de individualização dos fenômenos vividos que participam não só no desenvolvimento neurofisiológico, mas também no desenvolvimento de toda a personalidade.

Em seu texto, a autora relata que as dificuldades de aprendizagem não têm origem apenas na criança, mas podem ocorrer por problemas na escola como: dificuldades com a metodologia utilizada pelo grande número de alunos, por problemas com os professores. A família também pode contribuir para o não aprendizado da criança, por se estruturar de forma inadequada, doenças graves, situação econômica precária. Os problemas podem estar centrados na criança, mas não necessariamente ser um transtorno de aprendizagem.

A criança pode ter anemia, otites de repetição, dificuldades visuais, problemas emocionais, etc. Importante lembrar que mesmo quando neurológicas, as patologias podem não ser, primariamente, responsáveis por transtornos de aprendizagem, é o que ocorre com as crianças com paralisia cerebral, com epilepsia, ou com retardo mental. A nomenclatura transtorno primário de aprendizagem se refere aos casos de dislexia, discalculia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

A abordagem dos aspectos neurológicos da aprendizagem passa não só pela aprendizagem formal, mas também pela aprendizagem primária, que é aquela que permite a adaptação e sobrevivência. A aprendizagem secundária é aquela que utiliza a transmissão de conhecimento através dos tempos. A aprendizagem quaternária se refere a um tipo especial de comunicação simbólica que possibilita pensar com símbolos e realizar novas formulações diferentes, o que pressupõe invenções. Para que o ato de aprender se desenvolva adequadamente é preciso a integridade de diversas áreas do sistema nervoso.

A linguagem é a capacidade que o ser humano possui pelo qual se comunica através de um código adquirido, permitindo transmitir seus pensamentos, ideias e emoções. A linguagem pode ser divida em fala, escrita, gestos etc. As áreas instrumentais da linguagem são: área de Broca, área de Wernicke, circunvolução angular, circunvolução supramarginal, fibras de associação, como o corpo caloso e fascículo arqueado, áreas subcorticais, como o quadrilátero de Pierre-Marrie e tálamo.

A dislexia é um transtorno de aprendizagem que se caracteriza por dificuldades na leitura e escrita, que independem da inteligência do indivíduo e de suas condições sociais e culturais. É uma desordem específica da linguagem caracterizada pelas dificuldades de decodificação das palavras, reflexos de déficits nos processos fonológicos.

Os hemisférios cerebrais têm funções específicas e há uma dominância do hemisfério esquerdo sobre o direito em relação à função da linguagem. Os exames de neuroimagem mostraram que no cérebro do disléxico há maior probabilidade de ter planum temporales simétrico.

Referindo-se à neuroplasticidade, Rotta afirma que James, no final do século XIX, e Cajal, no início do século XX, observaram que o cérebro era capaz de se regenerar quando lesado. Logo, Knorsky chamou este fenômeno de plasticidade cerebral. Por sua vez, Black definiu a plasticidade cerebral como o mecanismo que permite a flexibilidade do cérebro tornando possível a cognição, resultado de mudanças em diferentes níveis, Kandel afirmou que tais mudanças são a base das funções cognitivas. A neuroplasticidade pode ser observada no desenvolvimento normal do cérebro, como resposta à experiência em determinado momento do ciclo vital, e como resposta à lesão pré e pós-natal.

A repetição com significado para o aprendizado tem grande importância e enfatiza a plasticidade cerebral clara como resultado da estimulação adequada para o ato de aprender.

O pensamento atual sobre neuroplasticidade e aprendizagem passa para a observação de que existe um potencial intrínseco para a regeneração tanto dos neurônios do sistema nervoso central e sistema nervoso periférico. São conhecidos fatores que estimulam e que inibem o crescimento axonal e que estão presentes em todo o sistema nervoso, aumentar as substâncias excitatórias e diminuir as inibitórias tem melhorado a regeneração de nervos periféricos, sendo cada vez mais possível interferir terapeuticamente na regeneração neuronal.

Ao finalizar esta reflexão, fica evidente a necessidade do psicopedagogo, em inteirar-se e aprofundar seu conhecimento sobre o funcionamento cerebral. Observa-se, que na clínica, é cada vez mais comum a atuação com indivíduos com síndromes diversas, que apenas o conhecimento pedagógico por sua vez, não dá conta dessas patologias. Precisa-se conhecer o funcionamento cerebral normal, para que assim seja possível entender o que está acontecendo com o cérebro lesado.

Com este entendimento, o profissional será capaz de traçar objetivos coerentes com o quadro que necessita tratar, alcançando as metas desejadas. Cabe ressaltar que cada indivíduo tem uma forma própria de aprender, mesmo com ou sem lesão cerebral, e que não é “máximo” que o terapeuta, professor ou pais desejem que o sujeito irá alcançar, mas são as suas condições neuroanatômicas, fisiológicas emocionas e cognitivas que indicarão o caminho clínico a ser trilhado e estimulado. Assim, a neuroplasticidade desempenha um papel fundamental no processo terapêutico. Pois, a plasticidade cerebral, nos traz novas possibilidades na área da reabilitação.


                                                     Josiane Ludovico






BIBLIOGRAFIA

1 – ROTTA, Newra (org). Transtorno de Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2007.